quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Só palavras vazias


Só palavras vazias

Perdi-me num universo diferente. Foi sem querer, entende? Não foi por mim. Culpei Deus (quantos deles quanto eu consegui em uma semana acreditar). Culpei você (até seu ouvido sangrar). Culpei até a mim (até onde eu consegui enxergar).
E meu universo que parecia tão certo, era castelo de areia a beira-mar.
Veio a onda e me arrastou...
Era Rum e Whisky alguns dias. Era Alambique e Cachaça noutros dias. Maiúsculos. Era eu descrevendo a cultura que não tenho à tarde. Era minha poesia crua suja à prosa.
Sem me importar.
Eu era Shakespeare. Hamlet. Era Álvares de Azevedo. Macário. Eu era ninguém. Johann. Era morcego. Eu era então alado, mas mesmo assim solitário andarilho negro. Não belo como ébano, mas sujo do carvão da caldeira. E no meu universo ébrio ninguém se importou.
E agora, antes e amanhã? Durmo, dormia e dormirei. Tarde. São longas as madrugadas. Clichê perdedor. E não posso lutar. Sem vencer, sem viver. Só penso no que volta sempre. Penso no que não posso me livrar. Penso naquilo que poderia ter dito para melhorar situações. Nos momentos que poderia permanecer calado. No que fui e sou agora tenho a impressão de não ser melhor.
E tua voz não me acalma. Ela vem antes do Blues rouco só para ser contraste com a maré destruindo minhas certezas, mas suave. E como é bom! E como me destruo aos poucos a cada dia. Cada tocar que me falta. Cada entrelinha que absorvo. E sou até hoje só ciúmes. E tento não seguir mais. Não é por querer outro universo. Outro amar. É por desejar demais esse planeta distante. E por sonhar, eu não posso mais. E por dormir demais para fugir, eu não combato a sede.
Estou morrendo aos poucos. Cigarro diário.
Sede e fome de um universo distante. Meu maior e melhor vício. E são mínimas ligações, mínimo contato, que me põe em desespero. E eu me perdi. E foi sem querer que parei de reconhecer as esquinas. Elas mudam rápido. Elas se moviam rápido demais. As ruas levantavam enquanto eu andava. E batia de cara com a vida. E meu rosto era reflexo de tamanho amargor. Achei que nunca iam curar. Machucados de tombos sob o luar. Brigas. Poético, louco e vadio.
Eu pensava ébrio que nem era tão burro assim. Que a vida podia ser melhor. Que poderia ter sido um novo... Sei lá... Eu? Descobria ainda a gravidade caindo bêbado no chão. Eu descobria o viver e nada mais. Era Galileu morto num porão imundo. Mais um dos imortais. Os gregos tinham vinho. Era só o que precisava. Espartano pra lutar? E essa seria minha nova nossa casa. Chegando de um universo distante... Distante... Distante...
E daria tempo. Tempo de ser feliz. De passar o café. De levantar antes do intervalo da TV. De olhar pra trás. Só para conferir os erros e idiotices. E iria sorrir alto e satisfeito.
Mas o plano é dormir. Big Brother está assistindo. E provavelmente será o meu fim. Meu tempo é relógio, parado, sem ponteiros, para não me trazer a ilusão. Ilusão de que tudo pode ser diferente. Ilusão de ser feliz. Esquecer que ainda hoje não tenho um universo pra voltar.

Alexandre Bernardo

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