terça-feira, 27 de março de 2012

Pra ser feliz e nada mais - Parte 1

Pra ser feliz e nada mais

A minha felicidade depende de mim.

Pensava solto no ar. A vida nem era mais tão cinza. Eu queria acreditar e somente isso já me deu forçar para acreditar e forjar cada uma das minhas verdades. Eu já não era agnóstico, cético, ateu, religioso, crente, nada disso. Eu era dono das verdades absolutas sem aquele ar de estúpido que enobrece as pessoas. Pelo menos eu as considerava ricas (e, só por isso, nobres) e estúpidas. E pensando em outra verdade menos importante o dinheiro deixava até meu melhor amigo bem estúpido. Eu contaria. Cantaria ao mundo se preciso fosse. Só para provar que eu havia esquecido e que agora a felicidade dependia de mim.

Continuei seguindo em frente. Um passo de cada vez. Tempo úmido mesmo com o sol desejando sair. Lutava com as nuvens para se libertar e ver a cidade. Pelo tempo que passava aqui olhando ele devia gostar da cidade. Era sempre assim pela manhã. A vida parecia querer nascer nas ruas, nos prédios, em meio à construção, mas não deixava de lado outras estruturas, fossem estas remédios, deserto, favela, praia ou o ribeirão. Leve a vida chegava a cada um.

Lembrei da praia. Como não ser feliz na praia? Acontece que às vezes é só a angústia que vai lá morar. Pior saber que muitas vezes ainda iria passar. Sei que vou precisar. Vai ser um turista que não tem ideia do caminho de casa. Será um engomadinho de bolso cheio, cansado de esforço. E de qual esforço?

Essa gente nasce com essa luz opaca que nem ilumina, nem apaga, mas que com o tempo cega. E você nem percebe até chegar. Até cegar.

Chegando a garagem, percebo tudo funcionando como deveria. A cidade caminha como deve andar. A minha felicidade depende de mim e tem certas coisas que simplesmente não devem acontecer. Não hoje. Se meu táxi tivesse sido roubado, depredado ou algo assim, talvez as pessoas não acreditassem. E minha felicidade depende de mim.


A.B.

XX

Dado, dado, dado o que fizeram com você?

sexta-feira, 9 de março de 2012

Mais que dia!

Sem dias. Cem noites.


XX

Mais que dia


- Mais que dia!

Era a frase dita toda noite como um velho ritual ao se deitar ao lado da mulher que já nem notava a falta ou sua presença.

- Mais que dia!

Dizia ele em busca de reafirmação e um pouco de atenção. Quem sabe?

Dizia como queria. Era livre. Maizi que diaz. Más que dia. Mas que dia.

Sem nenhuma resposta, seu corpo cansado deitava seus músculos e ossos estendidos em uma cama macia para adentrar naquele estado de semi-morte... Como chamam?...Sono...Chamam de sono mesmo se não me engano.

Ele dormia com aquela mensagem na cabeça, daquela forma que o inconsciente não te deixa mais em paz. Tormento... Tormento puro. Entre reviravoltas, remexidas, vai e volta, puxa e solta cobertores, tomou um empurrão. Sua mulher cansada de seus movimentos. Já desconhecia a paciência excessiva que só o amor traz.

Acontece que nesse empurrão uma letra se perdeu.

E que falta que fez. E quanto tudo muda por uma letra consciente ou inconscientemente.

A mesma letra que pretendia começar o nome de seu filho. A mesma que se iniciava o nome de seu pai. Era só mais um singelo sinal de desrespeito. Aquele respeito que quando falta em vida e alguém que deveria ser importante e não era se vai. É mostrada a face da ingratidão. Tudo pensa ser revertido, se perante outros ingratos presta-se homenagens sem nenhum sentido.

Show de horrores, bem no estilo horrorshow que a fruta se industrializa para alguns mostrou. Alguém podia entender o significado?

Realidade?

Quase ninguém entendeu.

Mas nem entre a estranha semelhança gerativa de T e D alguém entendeu. E provavelmente nem faça sentido de uma maneira ou de outra, por que um I também se perdeu.

A frase seguia soberana em seus reinos do subconsciente enquanto emitia um barulho semelhante a um baixo urro assimilado como ronco.

Mais alto lembraria os gritos nos altares dos deuses e semideuses. Há muitos mortos, mas poucos se lembrariam disso.

A falta do I. Sua presença seria notada...

Mas que dia!

Ele precisava de complemento! Ele precisava de complemento!

E o inconsciente se expandiu. Era uma nova frase que planava sobre seus pensamentos mais recônditos e adormecidos e um a uma se levantava buscando seu espaço naquele mundo empoeirado. Sua cabeça latejava.

Mais que dia!

Mas que dia!

Mas que da!

Tudo iria mudar? Levantaria de mal humor e seria despedido após uma bela reunião? Daria atenção a sua mulher? E, enfim, amor... Todo amor do mundo que enfim queria... procuraria por uma vida melhor?

Eu lembro bem. Ela me disse: já que não posso te amar, deixa só eu te odiar um pouco mais?

Entenderia que uma vida em alta velocidade não significa vida intensa, e sim, que as coisas da vida perdem-se mais e mais rápido...

Daria o valor que valia a vida. Daquela que vale a cada momento ser vivida, vale cada instante de dor e prazer.

Vale cada mês, cada jogo de futebol ao lado do filho, vale a vibração do gol no último lance e vale o choro e a despedida no último beijo, pois mesmo na dor, tem o seu o que de vale a pena viver.

Viver vale a pena... Mesmo suportando dura pena...

Entenderia a falsidade dessas palavras e mesmo assim as reafirmaria, pois a esperança que aparece no olhar da criança é a mesma que motiva o viver e a busca da felicidade verdadeira...

Mesmo nunca entendendo...

- Mais que dia... Tudo e nada iria acontecer?

Sua cabeça latejava.

- Mais que dia... Teria o que lhe faltava e todo o tempo do mundo?

Começava a despertar e sua cabeça doía.

- Mais que dia... Entenderia e esqueceria o significado da vida?

E por um segundo, sem precisar de nenhuma dessas e nem de outras palavras entendeu.

Entre o sangue que vertia como rio nos seus olhos viu a figura de um velho prostrado aos pés de sua cama. Seu olhar era de quem entendia e esquecia constantemente o sentido da vida. E com essa bagunça toda se divertia.

Um sorriso.

E ele caía sentindo todo o esplendor daquela paz.

Disseram que foi mais um ataque cardíaco.

Não acredito. Para mim isso foi só boato.

Morte cerebral sem aparente motivo.

Bobagem.

Uma doença rara que ataca uma em cada dez milhões de pessoas.

Mais um excesso de números e palavras vazias.

Mas alguém sabia... Mas... Mas melhor seria não contrariar.

Certas coisas na vida possuem várias maneiras de ser desveladas.

E nessa velocidade fica tão difícil entender tudo o que é visto nas janelas.

E passando tão rápido, os sentidos são perdidos e eu sei que cada momento é muito importante. Sei também que o mais usual é sempre somar e para todos essa vida é tão estranha de viver... E de viver por viver...

Os sentidos?

Perderam-se num olhar e num sorriso de paz...

O saber? O aviso do que será esquecer...

E viver por viver... Minha cabeça lateja ainda mais... O parto ocorre e eu mal consigo olhar... A vida me dói... Da dor tento me livrar... E desse modo...

A vida se esvai...

O velho homem coloca a mão sobre meu ombro e diz suavemente:

- Não adianta e nem nunca adiantou lutar...



Alexandre Bernardo


XX


Sem mais. Cem menos. Como que quiser.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Palavras de bar em bar

Por que seguir sem querer seguir?


XX


Palavras de bar em bar

É noite, como sempre devia ser

Copo cheio, como sempre deve estar

A ebriedade é o motivo do meu viver

Copo em copo, dose em dose, bar em bar

Já conheço todos os lugares dessa cidade imunda

Em que posso vomitar

Palavras, gestos, estupidez e opiniões

Liberta-me dos meus preconceitos e grilhões

Só para outros criar, novas brigas inventadas

E depois eu culpo o álcool, minha alienação

Não suporto mais as risadas

Pessoas felizes e imbecis

Seu modo fácil de levar a vida

Entreter-se, divertir-se e se relacionar

Seu sorriso sempre parece me ferir

A boca se abre para exibir minhas chagas

Não quero esse nome, que lembra a tela de celular

Fotos de momentos marcantes

Quero antes a liberdade de sentir

Quero antes o amargor do porvir

Só pra que eu possa recordar

Que de toda força empenhada para tudo

O mundo faz questão de interferir

Ferir

Emperrar

Ferrar

Que de toda esperança e fé depositada

Em encontrar

Chorar

Mais ainda da essência se perde

Só mentir

E rir

Suas palavras me atrapalham a pensar

Suas conversas não deixam meu ser se acalmar

E agora levanto-me

Pensamento firme na cabeça

Fazer do sofrimento dinheiro

Pois os dois na verdade são o mesmo



Alexandre Bernardo


XX


Sem palavras e mais sem dizeres tolos

quarta-feira, 7 de março de 2012

Assassino de Aluguel

Matando ideias e ideais...


XX


Assassino de Aluguel

Assassino de aluguel

Mato ideias e ideais

Pensamentos e sentimentos

E começo logo a sorrir

Torvo, tosco, torto e cruel

Mordendo o próprio lábio até sangrar

Vejo no sofrimento antes da morte

A seriedade que gostaria de ver em todos enquanto vida

O fim pode ser mais belo que o começo

Ou ser o mesmo

Entendo

O sangue jorra

Pesado, escuro e atraente

Levo minha lâmina, meu caminho e minha história

Levo minha crueldade, meu dinheiro e minha pistola

Já tenho um pensamento

Pra dividir antes de tirar a próxima vida

Será divertido

Mais uma vez


Alexandre Bernardo


XX


...

terça-feira, 6 de março de 2012

Canção à Destruição

Seguindo correndo da vida e dos pensamentos que me atormentam...




XX

Canção à Destruição

Petrifiquei um momento, foi certo

E duvidei de teus planos tolos

Indaguei se era mesmo verdade

Esse falar e fingir tua vontade

Foi com eletricidade, 220 volts

Foi com um pingo de amor, oceano de dor

Morde e arranca um pedaço do meu coração

Nem ligo, pois minha força é som de trovão

Sigo na fumaça e ando parado

Nem sei se vivo, morto, respiro o fogo

Mas não consigo evitar esse medo insano

De tudo que não vi, não vivi, foi engano

E na dual traição dos amigos do raio

Sol e trovão nos meus tímpanos

Em outros olhos cegam a verdade

E se foi sangue e guerra

O que sobrou foi vergonha, interesse e insônia

Nos que fugiram sem os membros por terra

Nos que pelo mar nadaram sem pernas

Alguém mesmo lhes espera?

Deus do raio ou do trovão

É o mesmo deus da guerra

Sua voz adornada de falsidade. É roto

Só se diverte com destruição

Canto a ti essa canção

Outra mais moldada em fogo

Estúpido é ainda meu coração

Somos brasas de um vulcão


Alexandre Bernardo


XX


Future? Nothing!!!

sexta-feira, 2 de março de 2012

Amigo (s) Poeta (s)

Esse é para o Hilton Rafael (Nosso Castelo de Cartas), Thiago Spíndola (Des-humanos) e Jeff sem @ e sem contato


Sigamos!



XX

Amigo poeta

Meu amigo anda respirando poesia

Rima até mesmo seu falar

Combina doses, hora exata do cigarro, um porre

Dizendo que tudo está em seu perfeito lugar

Seus versos são por vezes retos – diretos de direita

Pungentes

É inspiração de uma briga de bar

Como fosse sua vida, vezes não segue coerente

Esbarra aqui, ali, não se deixa estar

Com os brancos traz razão

Incoerência de forma

É sua recusa a musa

Sua Vênus é livre

Recém saída da cadeia, prendeu ali sua beleza

E o que sobra vende em liquidação

Boca quebrada e sangue escorrendo pelas vielas sujas de lama

Meu amigo poeta aspira da sujeira

A limpeza do processo de criação

Esteticamente belo une os versos em estrofes

Une um a um e os costura

Por vezes, é fato, se fura

Mas o vermelho do sangue traz cor a seus pensamentos

E o que seria da vida sem cor

Sem dor e seu falar?

Segue meu amigo poeta

Seu estilo forte e rápido é também musical

Sua escrita é discurso punk lúcido marginal moldado no fogo bestial


Alexandre Bernardo


A.B.


XX


Rumo ao infinito, ao nada, à morte e além...