quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

C’est la vie (et mort)

E mais um dos escritos que podem ser ditos
Diferença pode até existir, mas o tempo continuará a passar...


XX

C’est la vie (et mort)


As formigas são os animais mais fortes do reino animal. Um professor uma vez me disse que elas conseguem carregar não sei quantas vezes seu próprio peso. Bobagem. Eu sei do segredo das pequeninas. O segredo é a angústia.
Quando se é pequeno demais, os problemas não podem ficar maiores. Não surgem falsas expectativa e desilusões. O pequeno nunca pensa que será feliz e assim nunca busca algo maior, não se envolvendo em problemas maiores.
Essa foi uma discussão de bar bem infeliz.
Bem infeliz são também meus resultados ultimamente. Caindo pelas esquinas. Falso seria dizer. Eu caio em casa mesmo. O álcool supostamente iria servir para aliviar a dor. Acontece que eu me sinto a cada dia menor. Mais fraco e inútil. E mesmo assim os problemas parecem crescer mais e mais. Os machucados que cobririam todo o meu corpo já nem me importam mais.
Assim deveria ser a vida.
Nessa filosofia barata de se aceitar e seguir cegamente o sistema. Tudo é o sistema. Entidade máxima e não substancial que controla o mundo. Acontece que eu só quero em nada acreditar. Nem mais em mim. Nem em você. Nem em ninguém. Cada dia que passa estou mais velho para ouvir, para mentir e principalmente para falar.
Não te culpo e nem nunca irei te culpar. Somente preciso ficar longe da sua voz. Todos os planos já se perderam. Foram-se embora com a maré. Levados pelo mar. O que ficou foi a ressaca. De tudo o que se possa imaginar e com todos os nomes possíveis. Durmo com uma constância que me assusta às vezes. Passo tardes e noites na companhia de filmes (muitas vezes horríveis e assim eu entendo por que ninguém nunca queria assistir). E em outras noites eu busco o primeiro angustiado, ainda muito menos do que eu, mas faço o incentivo do diabinho que senta no seu ombro e digo:
- Conheço algo que pode nos alegrar um pouco...
Promessa infundada. Sempre dá certo.
Daí somos violões e gritos. E para as estrelas dedicamos nosso cantar. Não mais a estrela guia que se perdeu na imensidão do céu enquanto distraído eu olhava o luar. Fui sempre distraído demais. Hoje, por exemplo, estou aqui deitado olhando para esse céu com meu corpo já quase congelado. Acredita que nem vi os corvos pairando sobre minha cabeça?
Surpresa foi assistir enquanto um dos corvos descia mais e mais e pairava perto demais de mim. Ele queria me dizer: - Nunca mais! ou Never more! ou qualquer outra língua que soubesse dizer. Ao invés disso ele pousou sobre minha barriga. Olhou nos meus olhos como soberano. Sabia que era o fim e esperava ele começar a beliscar, chamar seus amigos e destruir cada pedaço dessa carne apodrecida que é meu corpo. Eu queria assistir meu último ato dessa palhaçada que aguentei em vida.
Corvos são cruéis.
Ele arrancou meus dois olhos e assim não consegui assistir mais nada.
Eles sempre começam pelos olhos.
Agora volto a ser pequeno. Esse problema é ainda tão grande.


Alexandre Bernardo


XX


Ouvindo Beck - the golden age

e um dia pra auxiliar o Rafa a preparar o Book
Lendo coisas que não devia e revisando tudo mesmo assim...

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