Mais palavras de Dor
XX
Dor
É só mais uma dor?
Talvez seja como bem sinta
Mais mal que bem, pois mal me levanto
O desejo é transcender
In Bloom e florescer a cada despertar
Os questionamentos um a um
O corpo me diz: jogue-se e se entregue
Mal entendo que é inútil lutar
Talvez por isso eu insista em continuar
Está tudo acabado!
São tantos “talvezes”
Por vezes rodeados de incertezas
A certeza é dor
Pungente, Mordaz, clara e cruel
Ela é o queimar dos cigarros nas mãos
Ela é o tapa na cara, ardente humilhação
Ele é o tocar dos sinos delatando o adultério
Ela é a mão coberta, oculta, assassina, cheia de mistério
Rasga firme minha pele
Arranha, assombra, assusta e espanta
Tudo a mesma coisa escondida por aquele sagrado manto
Corte de espada, afiada, ainda treme
Deixa-me como lhe convier!
Convida, mas...
Ah! Larga de mim!
Deixa-me respirar um momento mais
Livra-me do compromisso de aportar nesse cais
Ah! Deixa-me de qualquer jeito, mas não me deixe assim
A opressão é sempre grande, afoga-me gigante
Imensa é minha cruz e imenso é o pesar
Nojo das metáforas bíblicas na estante
Tão pagão é meu pensar
Tão sincero, sádico, satírico
Eu então só a mim imito
Tento de minha imagem não gostar
A realidade tosca e bela
Não há heróis para nos salvar
Nem sou eu, ao menos, aquele com poder de libertar
Sou aquele que bate, xinga, atropela
Sigo o padrão do destruído
Destituído de moral e pensamento próprio
Sou aquele pinchando muro, sou fruto do ópio
Sou veneno em frasco raso, sou sujo, arrasado
Sou rima pobre, improviso barato
Sou verso branco, sou poema interno rimado
Disfarço tudo de dor, sabor do acaso
Omito-me a responsabilidade de dizer algo tão vago
Bandido, forçado, molestado
Delinquente, marginal, menor abandonado
Santo, exaltado, bem amado
Consciente, pensador e equilibrado
Ah! Quanta mentira e contradição nas palavras de dor
Sua voz toca minha pele com fogo
E a dor é tão extensa quanto as palavras
Que bom era somente fingir dor
Tão certo era largar o sentimento
Como quem deixa a folha de papel
Agora só me resta
Esse sofrer eterno em que palavras são vazias
Meu algoz bate a porta
- Venha até mim, meu salvador
Mal sabe do mal que irei proporcionar
Mas meu desejo é tanto e tanto
Preciso ir
Torturas não esperam
Batem na porta até deixá-la no chão
Alexandre Bernardo
XX
Sentir...
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