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XX
Ninguém vai ouvir
Hoje voltava pra casa enquanto chovia. O céu queria desabar, mas sabia que aquele não era o momento. Um assassino encurralava sua vítima para a última facada, mas sabia que aquele não era o momento. Um pai segurava o filho morto há horas e queria largá-lo, mas sabia que aquele não era o momento. Um casal de namorados se abraçava sem temer o amanhã, mas não iriam se separar, por que aquele ali simplesmente não era o momento.
No entanto todos esses momentos chegaram. E ninguém ouviu.
Ninguém ouviu enquanto o senhor caminhava e choramingava mal-dizendo da própria existência com a faca-culpada nas mãos. Ninguém ouviu.
Ninguém ouviu os gritos de dor entre a tosse desesperada, enquanto os familiares sem nenhum grau de parentesco se debatiam contra as paredes da câmara de gás. Ninguém ouviu.
Ninguém ouviu os tiros que aconteciam no convés enquanto entravam no bote salva-vidas. Ninguém ouviu.
Ninguém ouviu enquanto ele prometia não ser o autor dos disparos, mesmo segurando tanto sangue que já se esvai de seu corpo. Sabia que iria morrer, mas mesmo assim. Ninguém ouviu.
Ninguém ouviu quando ela prometia melhorar. A ponte parecia dar um apoio e um ombro amigo mais significativo. Ninguém ouviu.
Não fui eu. Não foi você. Ninguém nunca vai ouvir.
Alexandre Bernardo
XX
Let's hear the sound of silence...
A cigana de fogo (Ato 1)
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1813
Europa ocidental
Voltava pra casa após mais um dia de trabalho nada incomum
Distante eu vi uma fogueira
Um povo estranho em volta dela dançando e can...
Há 4 anos
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