quinta-feira, 30 de maio de 2013

O frio

O frio

É o gélido estado que estou que me engana
Desci o rio congelado, descalço e pisando em falso
Medo de cair no gelo e não tentar mais lutar
Toda minha vida eu pensei ser um viajante glacial

Congelado tinha finalmente os olhos azuis
Foi exigência minha e da sociedade do Texas
Loucura era meu olhar parecer tanto com o mesmo de sempre
Perdido e isolado. Sem alma, sem lar, sem par.

Meus passos deixavam pedacinhos de gelo no caminho
Ele parecia mais amigável como um pequeno sorvete
Daqueles divididos em frente à roda gigante
Ela tinha um ursinho polar em suas mãos

Ela me conhece. Vê-me sorrindo e lê minha mente
Eu queria mesmo era um café com cubinhos de gelo
Mas é pura mentira que criei para deixar o tempo passar

Às vezes eu olhava pra trás e pensava no que podia viver
Hoje, congelado, eu espero minha tão amada ciência descongelar
Espero uma nova época em que novos sentimentos deixe crescer
Carros voarão, acidentes mais incríveis, não mais solidão, tanto amar

Ela segura minhas mãos que acabei de tirar do casaco
Ainda tão geladas como sempre foi meu coração
Meu sorriso de resposta é frio
Frio

Alexandre Bernardo

Leva

Leva

Vem com seus problemas pela noite
A noite é o problema e a solução
Acostumei a falar e esperar pelo que não tenho

E então num dia passo minutos a te reclamar
O mesmo nome repetido
E você com horas se dedicando
A trespassar a faca nas minhas costas

Leva daqui
É seu

Levanta um dia que a sorte aparece
Loki sorri e você ainda mais
Levante preparado à guerra
Loucuras de amor por todas e nenhuma

Não leu o código?
Não aprendeu?
Esqueceu?
Ignorou

Leva da mentira a vida
E desfaz o que incomoda pelo código
Mas quando aperta o calo, corre e chora

Já não há nada entre a gente
É motivo
Vá lá!
Vala!
Valha!

A. B.

Deixa acalmar

Deixa acalmar

Olhando as ondas do mar eu perco
Senso e noção do bem e do mal
Sou dragão metafísico e mais além

No céu a chuva é mostras de sua vida sem nome
Acordar no meio da noite cheio de mentiras, pesado e perguntar o porquê
Não ter mais motivos pra se intoxicar e ser essa a razão

Esperou pela chance de acreditar o mais forte que pode
Mostrar do que os sentimentos adversos são capazes
Ela fala contigo quando não existe ninguém ao redor
E suas histórias são também seus medos e vitórias

No momento em que deseja ela parte
E os sonhos queimam de novo e de novo
O pensamento é tão gelado quanto seus dedos
Na madrugada segurando o copo

Exibindo seu troféu barato é infantilidade de criança
É seus sorrir que trazia aversão
São suas histórias que alimentam suas mentiras

Só pra se afastar
Só pra se acalmar

Olhando as ondas do mar eu penso
Preciso de mais ondas do mar

A. B.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Ódio da não razão

Ódio da não razão

Não precisava nem de motivos. Não gosto mesmo de ninguém
Odiar é meu esporte e me convém. Afinal, cabe em toda hora e todo lugar

Agora, pensei que seria diferente ter teu pensamento a retornar
Bater na porta e deixá-la ao chão para divertir a estadia
Diga se desse e de outros modos não é que construímos emoção?
Mas são tantas palavras soltas à não razão

Ela cata uma a uma
Recorta excesso ao redor
Assopra
E como passarinhos voam

Perdem-se no ar

E no chão as brasas caem e ao fundo meu sorriso é colorido amarelo-fumaça
Odeio-os
Queimo
Odeio

Sou chama só por odiar o ódio de minha não razão

Pensava um dia ser diferente de tão diferente
Ver e ignorar como todo o pensado e sentido até uma semana atrás
Mas o pensamento é fraco e se infla com as mordidas das abelhas brilhantes
Sobre as feridas vermelhas dançam e o ódio cresce em mim

Era tão ridiculamente o esperado
Que buscar o ódio é ainda mais infantil
Ele nasce da idiotice não combatida no pensamento
Não eliminou a não razão, lições apreendidas de razões

A. B.

Delírios

Delírios
Sentado aqui no quarto do hotel
Penso em coisas que me fazem feliz
Penso na rua torta e confusa que me fez perder o caminho de te encontrar
Penso no olhar perdido do pedinte ao lado do sorriso do casal na Paulista
Penso se terei muitos choques a aguentar até ser considerado são
Penso no ébrio que carrega minha face e meu sorriso na Augusta
São tantos gritos
Ninguém pra escutar
São tantos ouvidos
Mas nenhuma verdade pra lembrar

Alexandre Bernardo

Momentos desperdiçados

Momentos desperdiçados

Foi somente um dia de ressaca
Foi somente uma semana mal descansada
Foi somente um ano de não produções
Foi somente o mês não trabalhado
Foi somente o final de semana sem partidas
Foi somente a viagem de volta sem leitura
Foi somente o momento que deixei passar
Foi somente a ligação que não atendi
Foi somente o sentimento que escondi
Foi somente a sentença que omiti
Foi somente a cor que não usei
Foi somente uma doença que exagerei
Foi somente uma cura que não compartilhei
Foi somente um brinquedo que esqueci na gaveta
Foram somente palavras que deixei de escrever
Momento desperdiçados

A. B.

Lua

Lua

Vem cá.
Você não vem?
Olho pra você assim
Certeza que não vai cair pra cá?
Vem sambar nas ruas de braços abertos
Curtir a chuva aqui de baixo
Desce do salto e vem amar
Desce
Ou
Cai de vez

A. B.

Percebo escrever motivado pelo amor

Percebo escrever motivado pelo amor

Como assim? Por quê? Onde?
As perguntas não podem responder mais
Elas são somatórias a pensamentos confusos
Foi muito gim misturado a tempo ocioso
Cereais e zimbro ou mesmo cevada maltada
Não me lembro de mais
Ademais
Fez me perder
Todo o pudor que sentia em dizer
Percebo escrever motivado pelo prazer
E de que foi a busca e houve respostas
Foi só mais uma pergunta que meu pudor
Não. Não saberia responder
Deixei o esperar de lado por motivos fúteis
Irritei a mim mesmo e foi o momento
De maior diversão que tive há tempos
Arrepender-se por um quase beijo forçado
Ver a vergonha rubra em minha cara no banheiro
Rubor no moreno é tom que só a natureza pode fazer
E esse meu azul acinzentado em pele foi presente ancestral
Percebo escrever motivado pelo tesão
Foi uma de minhas asas que arrebentou
Voo preciso, mas pouso forçado
Foi pelo calor do momento e intensidade
Voei alto demais e bem sabes que minha cera
É pouca, minhas asas tortas
Um anjo reverso de sentimentos falsários
Estelionatário de calor obtido do sol
E só assim me vejo voar

A. B.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Frágil


Frágil

Asas frágeis. É difícil voar. Agora o pouso, por mais que assuste, conforta.
Acho que descobri de uma vez por todas o que é morrer.
Morrer é só um susto. Nada mais que um momento.
Passa correndo em desespero enquanto na sua mente não se passa uma vida. Nada disso. Você só pensa, ainda que inconformado “é isso? Esse é o fim da história?”. Questionamento válido e motivado enquanto as pessoas gritam. Seus amigos gritam e você pensa em você. O som estupidamente alto da batida. Você só pensa em você. E meu egoísmo não é único e sei. É o mais humano que aproximo da palavra. Preocupação com sobrevivência pela sobrevivência. Instinto animal. Humano. E você só pensa em você.
É só um susto. É só um momento. E você procura por abrigo e alguém do seu lado. Um conforto que supostamente lhe daria tempo de sentir aquele algo mais. A maioria por aí pensando em morrer. Desde que não sendo pelas próprias mãos está tudo bem. Sonhando com a própria morte. Nos sonhos também é só um susto.
Não dá tempo de reminiscências nem arrependimento enquanto a bala cruza repetidas vezes. Não há tempo após o estrondo. Após a explosão, não é mais você. Quando a água começa a entrar, não é mais você. Quando a fumaça já tomou conta de tudo, não é mais você. E seu coração batendo rápido é mais indício de momento. Sua vida é só momento.
E você só pensa em você.
Frágil.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Tenho pensado em educação


Tenho pensado em educação.
Não somente daquela com a qual todos têm que lidar no dia a dia. Aguentar a “falta de educação” humana já é tão comum que banalizo desrespeito com um sorriso. O inesperado machuca bem mais.
Penso na educação não só de meu país. Não é somente mera torcida por valorização do profissional docente. Não estou querendo maiores escolas e o próximo Einstein. Quem sabe um Bobby Fischer? Mozart? Eu a valorizar minha bandeira com um Santos Dumont nas camisas vendidas na esquina onde só havia foto do Che e Bob Marley.
Não é crítica. É só pensamento.
Eu pensei na educação tempos atrás. Estava me despedindo de uma escola em que trabalhava como professor, mas não tinha avisado os alunos ainda. Aulas de despedida tendem a ser emotivas demais e sempre busquei evitá-las. Eu sabia que terminaria, mas confiava no professor substituto e tentava manter o bom trabalho até o último segundo.
Cheguei ao último dia. Um desejo se realizou.
Em uma das turmas que não lembro ao certo qual, um aluno que também não lembro o nome me disse uma frase que nunca esqueci.
Eu queria você fosse embora daqui e não voltasse mais.
Lembro que ele não “gostava” de mim. Eu era o chato que queria fazê-lo estudar. Era insistente. Chamava atenção para a aula. E estava errado.
O desejo se realizou.
Anos se passaram e esse episódio continua na minha memória sem fazer muito sentido. O desejo permanece realizado. Eu imaginei a recepção da notícia no dia seguinte. Será que ele comemorou ou se arrependeu? Será que sua convicção hoje é que continuo errado? Será que se lembrou de algo que eu disse no momento de uma questão do vestibular?
Meus amigos da educação por vezes dizem que irão abandonar tudo de vez. O governo já o fez.
Eu?
Recebo um dia ou outro uma dúvida que ao respondê-la recebo um “obrigado, professor” acompanhado de um sorriso que me faz pensar em educação.
Talvez ainda possa valer a pena continuar por mais vinte anos...

A. B.

Marquinhos

Marquinhos

A senhora chegou do serviço com as mãos já bastante trêmulas. Acontece que nada a deteria. Correu à cozinha e preparou o café mesmo derramando algumas gotas para lá e pra cá. Pensava na bagunça e na sujeira que ela mesma causava, mas aquilo não era nada. Ela arrumaria em um instante. Marquinhos nem iria perceber. Chegaria afobado. Talvez derrubasse um ou outro copo, mas certamente voltaria depois com mais. Era um rapaz que sabia honrar seus compromissos. Lembrou-se da louça e limpou voando em pensamentos distantes.
- Pense num menino bom! – Ela diria satisfeita sem rancor nenhum.
Terminada a arrumação na cozinha, partiu mais uma vez numa disparada turva em direção à sala. Era tudo bem superficial, mas sempre convencia. Puxava uma ou outra almofada do sofá e tudo parecia mais bonito. Estranhou o controle no lugar correto. Marquinhos sempre deixava caído pela sala. Ela nunca havia brigado. Rosie chegava da escola sempre reclamando com o pobre menino e a senhora defendendo com as mãos mais trêmulas que normal.
- Menina, deixa o menino! – Ela talvez colocasse a mão no peito para aumentar o drama. Mas só se precisasse.
Cozinha. Sala. Agora o quarto. Sua jornada não acabava. Nada a deteria. Ela agora procurava a cópia da chave que tinha escondido. Não lembrava onde deixara. Justo porque o quarto de Marquinhos vive fechado. Rosie não chegava da escola. A senhora impaciente foi até a porta e percebendo aberta sorriu o mais sincero dos sorrisos amarelos.
- É muita sorte, meu senhor! – Como se a porta fosse da esperança no fim do arco-íris de Wall Street.
Tirava tudo do guarda-roupa e jogava sobre a cama só pra arrumar tudo certinho. Pensava no tanto que Marquinhos gostava de sair arrumado. Encontraria a roupa mais rapidamente e sairia feliz por isso. Arrumava os celulares na estante por ordem de tamanho. Por tudo que é mais sagrado, como esse menino é importante pra ter tanta gente conhecida assim?! Ela pensava consigo e tremendo continuava o serviço. Fechava a janela que ficava de frente para a cama.
- O menino pode resfriar... O menino não pode se resfriar! – Convicção sobrava na voz para compensar os movimentos ainda mais lentos pelo cansaço.
Um barulho veio da porta da frente. Madeira contra madeira na porta do barraco. Rosie chegava da escola apressada. Correu a cozinha e na geladeira pegou a garrafa de refrigerante e saiu bebendo pela casa. Passou na frente do quarto e viu a senhora ainda em seus afazeres.
- Mãe... O que a senhora está fazendo? – Disse mansamente.
- Menina. Não sou senhora. Estou arrumando as coisas para de quando Marquinhos vinhé. – Resoluta em cada palavra ela transpirava com dificuldade mesmo assim.
- Deixa disso mãe. Você sabe... Que ele não vai mais voltar... – Palavras lentas que pesavam uma tonelada. De esmagar o coração.
A senhora segurava o coração. Sem fingir dessa vez. Lágrimas escorriam de seus olhos e lembranças atordoadas povoavam sua mente. Era Marquinhos na TV. Eu sabia que esse menino seria sucesso. Era Marquinhos aparecendo em todos os canais. Mas não chamavam o menino de Marquinhos. Chamavam Marcos Augusto Bezerra. Chamavam Bandido. Chamavam Traficante. Chamavam tudo e nada menos Marquinhos. A TV falava e TV não mente. Falava que Marquinhos entrou no morro com outros três “indivíduos” e vinha fugido de polícia. Desceu do carro sozinho e tentou correr com uma bolsa de droga na mão. A TV falou. TV não mente. Seis tiros. E Marquinhos não voltava mais. Rosie abraçava a senhora e chorava também.
- Eu também sinto saudade, mas amanhã tudo ficará melhor... A senhora vai ver! – Ela prometia.
E o dia de amanhã seria exatamente igual.

A. B.

Hoje uma garota sorriu pra mim

Hoje uma garota sorriu pra mim

Hoje uma garota sorriu pra mim.
Passeava tranquilo e despreocupado no shopping indo em direção a uma loja de livros que gostava muito. Gostava. A loja agora é metade livros, metade restaurante. Não vi razão em nada daquilo e pelo barulho decidi ir embora o mais rápido possível. Então, comprei um belo fone de ouvidos novo e parti.
Enquanto tirava o fone da embalagem passava por um banco. Duas garotas conversavam alto. Muito alto. Nesse momento, uma delas disse:
- Sou preconceituosa mesmo! Odeio viadagem! – E sorriu.
Não sei se esperava um sorriso de volta. Não vi razão em nada daquilo e não devolvi nenhum gesto próximo à afeição. Nada disso.
Coloquei meu fone pensando:
- Sou preconceituoso mesmo! Odeio gente preconceituosa – E sorri sozinho. Riso distante.
Coloquei meu fone de ouvidos e espero que ele dure o suficiente para nunca mais ouvir essas conversas de corredores de shopping.
Nota mental: Use fone de ouvidos.

A. B.

O que me sobrou do amor

O que me sobrou do amor

Sobrou uma lembrança intocada digna de mulher idealizada
Por nada mais que um mero sonhador
Sobrou algumas noites mal dormidas, agonias ressentidas
A cada palavra dita em fervor

Sobrou um lanche despreocupado, momento inesperado
Onde estar era questão somente física
E físico também era o clamor e o desejo de meu ser desesperado
Por aquela pele tocar, essa boca que fala em arte e mecânica quântica

Sobrou te ver e te encontrar em todo lugar, mas você nunca ali
E onde quer que realmente esteja eu me esforço garras, dentes e pesar
Pra dali fugir, esconder, enterrar, não suporto nenhuma vez teu olhar
Sobrou tua voz nas canções e músicas que me apertam o peito ao ouvir

Sobrou você em todo lugar, lembrança e olhar

Sobrou um querer estar e sentir sem limites
Mas também um despedaçar de coração no mínimo triste
Sobrou um querer estar sozinho e não sentir que alguém me imite
Tarde e tardes de sonhos e palavras de lenitivo, pura esquisitice

Sobrou esse temer me aproximar e o passado me ouvir de perto
E descobrir que meu passado é real passado, isso desperto
Diz perto de mim o que sobrou do amor

O que sobrou do amor?
Solidão

A. B.

segunda-feira, 11 de março de 2013

E onde está Ulisses?

E onde está Ulisses?

Não há mais paciência para nada, meu caro
Onde está Ulisses?
Será que alguém pode parar a destruição que toma tua casa?

Teus inimigos cortejam tua esposa
Matam teus bois e porcos para banquetear
Tua derrota, tua viagem e teu sumiço

Não há tempo para flerte com semideusas paranoicas
Não há motivo para enfrentar um gigante com sérios problemas de raciocínio
Onde está Ulisses?

Troia caiu e agora cairá também teu reinado em honra
Volta e mostra que a força nunca se perdeu
Banha em sangue tua casa com criaturas vis

Só hoje. Só está noite. És finalmente permitida tua volta

Esmaga teus inimigos Ulisses!

Alexandre Bernardo

Não é o mesmo jogo

Não é o mesmo jogo

Ah! Toma tuas palavras de fingida solidão
Sou eu que não quero te ouvir
Bater na porta, sorrir baixinho, chegar

E se do mais ficar somente poesia
Que seja pura de falso sentir
Aquele descarado, desmedido, anjo reverso

Não é o mesmo jogo
E eu ainda quero jogar
Não é o mesmo jogo
E meu azar me deixa errar

Ah! É meu enfeite descolorido
Carnaval fora de época, hora marcada e lugar
Que deixa esse cheiro de ilusão no ar
E mesmo sentindo outro mal entendido

Sinto-me pronto a nada abandonar
Nem esse ar cansado
É o mesmo batido no peito
Na rima
Fruto do coração

Alexandre Bernardo

Não sou Cássius, tampouco Brutus

Não sou Cássius, tampouco Brutus

Não sou Cássius, tampouco Brutus
Não matei Júlio César
Não fui tratado como filho e não mereço esse queimar de brasas

Não sou Abraão, tampouco Judas
Não levei meu único filho ao sacrifício pra provar meu valor, mas entenda
Também não vendi ninguém a moedas de prata
Não mereço esse fogo em minha praça

Não sou vendedor de escravos, tampouco revolucionário libertário
Não tive vontade e nem teria coragem para desprezar meus irmãos
Também não matei pela causa, mas entenda
Não é justo queimar por minhas palavras

Não sou infanticida, parricida ou homicida
Também não sou exemplo de bom moço toda vida
Mas dos erros que cometo, todos vanglorio, não abro mão
Essas desculpas ao vento jogadas, não são só palavras

É meu sentimento dizendo baixinho como um trovão:
- Sai dessa, meu caro, o que temos na vida
É mesmo pra valer o esforço vivido, a palavra sentida
O mal entendido esquecido, conforto e perdão

Alexandre Bernardo

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O mundo já acabou faz tempo


O mundo já acabou faz tempo

Não entendo como não perceberam
Ele só riem
Sorriem
E não percebem que o mundo já acabou faz tempo

Você não viu?
O apocalipse chegou com os primeiros sinais da fome
E só continuou crescendo e consumindo o coração da humanidade
Sem bater nosso peito parou

Você não viu?
Os quatro cavaleiros vieram cavalgando um livro sagrado de cada religião
E não tiveram misericórdia da mãe terra e de nenhum de seus filhos
Doeu assistir enquanto brigavam por pedaços da progenitora

Você não viu?
A tsunami arrasadora era na verdade Wall Street
Consumindo e afogando moedas e notas. Nada mais
E como sofreram por todo globo. Notícia da globo
O furação era só mais uma menina

Você não viu?
O fim do mundo foi negociado em ações e compradas pelo governo
Acabou. Vocês só riem. Sorriem
E não percebem que o mundo já acabou faz tempo

A. B.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Só palavras vazias


Só palavras vazias

Perdi-me num universo diferente. Foi sem querer, entende? Não foi por mim. Culpei Deus (quantos deles quanto eu consegui em uma semana acreditar). Culpei você (até seu ouvido sangrar). Culpei até a mim (até onde eu consegui enxergar).
E meu universo que parecia tão certo, era castelo de areia a beira-mar.
Veio a onda e me arrastou...
Era Rum e Whisky alguns dias. Era Alambique e Cachaça noutros dias. Maiúsculos. Era eu descrevendo a cultura que não tenho à tarde. Era minha poesia crua suja à prosa.
Sem me importar.
Eu era Shakespeare. Hamlet. Era Álvares de Azevedo. Macário. Eu era ninguém. Johann. Era morcego. Eu era então alado, mas mesmo assim solitário andarilho negro. Não belo como ébano, mas sujo do carvão da caldeira. E no meu universo ébrio ninguém se importou.
E agora, antes e amanhã? Durmo, dormia e dormirei. Tarde. São longas as madrugadas. Clichê perdedor. E não posso lutar. Sem vencer, sem viver. Só penso no que volta sempre. Penso no que não posso me livrar. Penso naquilo que poderia ter dito para melhorar situações. Nos momentos que poderia permanecer calado. No que fui e sou agora tenho a impressão de não ser melhor.
E tua voz não me acalma. Ela vem antes do Blues rouco só para ser contraste com a maré destruindo minhas certezas, mas suave. E como é bom! E como me destruo aos poucos a cada dia. Cada tocar que me falta. Cada entrelinha que absorvo. E sou até hoje só ciúmes. E tento não seguir mais. Não é por querer outro universo. Outro amar. É por desejar demais esse planeta distante. E por sonhar, eu não posso mais. E por dormir demais para fugir, eu não combato a sede.
Estou morrendo aos poucos. Cigarro diário.
Sede e fome de um universo distante. Meu maior e melhor vício. E são mínimas ligações, mínimo contato, que me põe em desespero. E eu me perdi. E foi sem querer que parei de reconhecer as esquinas. Elas mudam rápido. Elas se moviam rápido demais. As ruas levantavam enquanto eu andava. E batia de cara com a vida. E meu rosto era reflexo de tamanho amargor. Achei que nunca iam curar. Machucados de tombos sob o luar. Brigas. Poético, louco e vadio.
Eu pensava ébrio que nem era tão burro assim. Que a vida podia ser melhor. Que poderia ter sido um novo... Sei lá... Eu? Descobria ainda a gravidade caindo bêbado no chão. Eu descobria o viver e nada mais. Era Galileu morto num porão imundo. Mais um dos imortais. Os gregos tinham vinho. Era só o que precisava. Espartano pra lutar? E essa seria minha nova nossa casa. Chegando de um universo distante... Distante... Distante...
E daria tempo. Tempo de ser feliz. De passar o café. De levantar antes do intervalo da TV. De olhar pra trás. Só para conferir os erros e idiotices. E iria sorrir alto e satisfeito.
Mas o plano é dormir. Big Brother está assistindo. E provavelmente será o meu fim. Meu tempo é relógio, parado, sem ponteiros, para não me trazer a ilusão. Ilusão de que tudo pode ser diferente. Ilusão de ser feliz. Esquecer que ainda hoje não tenho um universo pra voltar.

Alexandre Bernardo

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Receio em falar


Receio em falar

Sim. Não. Talvez. Não agora. Eu te amo
Pegou as chaves? Trancou o carro? Tem certeza?
Tudo receio. Tudo tenho medo de falar

Acontece que minha língua embola
Acontece que meus dedos travam
Acontece que às vezes só não quero ouvir
Tenho medo das respostas

Nem isso era assim preciso
Eu tenho é medo de alguma palavra te acertar
Entrar no castelo que te coloquei e te fantasiei

E não queria mais ver nenhuma reclamação te entristecer
Assim me calo
Escrevo covarde
Escondo por anos o que escrevo

Afundo aqui
Num papel velho
Cantinho esquecido do coração

Alexandre Bernardo

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Meus sentimentos por Joaquim


Meus sentimentos por Joaquim

Desde pequena fui nutrida de sonhos
Desde a TV à minha mãe e desde você Joaquim
Moreno, diamante negro e só meu
Eu era tua e sonhava com nossos filhos

Queria era você de terno no altar
Jogando flores nas escadas enquanto eu chegava da escola
Dos meninos, afinal, larguei a escola por você
Você sabe que era tudo por você

Até quando você disse com diploma na mão e voz mansa:
- Dizesti do casório minha frô
Ai Joaquim! Pare por favor!
Como eu iria pensar nisso? Negar um pedido teu?

Nossa vida era uma só. Tudo meu e tudo teu
E só com nós dois daria pra ser feliz
Mas certo dia eu te perguntei por que as joias da mamãe
Sumiram daqui de casa

Ai Joaquim! Pare por favor!
Não foi pra te acusar de roubo
Não foi por duvidar de você
Mas não precisava levantar a voz

A covardia começa na voz
Mas não precisava levantar a mão
Daí foi somente solidão e eu te dizendo
Ai Joaquim! Pare por favor!

Não precisei de nenhum outro motivo
Somente mais duas ou três surras
E eu sempre minto dizendo que fugi grávida depois da primeira
Era na verdade o que talvez devesse deveria ter o dever de fazer e não fiz

A covardia começa na voz e em palavras
Minha maldição das palavras
Ai Joaquim! Pare por favor!
Não começa a duvidar dos meus sentimentos por Joaquim

Ai Joaquim! Pare por favor!
Não é mais meu choro que acorda os vizinhos
Dia desses, sabe, chamaram a polícia pra mim

Disseram que eu estava louca Joaquim
Que era por você, provavelmente
Eu ri o mais alto que pude em toda minha vida

Era mais uma carta do Dr. Carlos
Lembra?
Aquele que cuidava dos meus machucados e me dizia
- Sai dessa menina

Eu ri o mais alto que pude em toda minha vida
Ri de suas mentiras e de quando dizia
- Sou teu, tu és minha
Ai! Eu nunca fui tua Joaquim

Eu ri o mais alto que pude em toda minha vida
O filho não é teu
Leandrinho não tem nada nos olhos que lembre você
E nunca terá

Tem olhos de Doutor

Eu nunca fui tua
O filho não é teu
E essa canção eu fiz sorrindo
Cantando pros cachorros da rua

Alexandre Bernardo