sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Uma Mancha em um Deserto de Lama III

Riacho Tosko das Naves II - 1:00 (again)

(como sempre ¬¬)

Listen: Mad Season - Wake up (it's time to wake you love affair has got to go)

Começando, estou insuportavelmente chato.
Disso eu já sei e não preciso que ninguém me lembre (Entendeu né?)

(sim, entendi ¬¬)

Pois bem melhor não falar nada. A probabilidade de eu me acabar mais ainda
enquanto falo é imensa.

Então...

Continuação:

Fumaça traz dor
Com ela atenção
Mas a que sai do meu pulmão não
Eu a trato com alegria. Do seu carinho me traz a fantasia
Seu inebriar me domina. São só menos três minutos de vida
O que poderia, eu mesmo, fazer nesse mísero intervalo de tempo.
Nada, plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro quem sabe.
Mas o que mudaria???
Não a nada que eu possa fazer

Johann ignorante! Não vês que ao nada fazer ao nem mesmo esboçar uma ação está perpetuando a comodidade de sua decante geração, piedade seja dada se tiver passado toda a sua decadência e ignorância a sua posterioridade. Já podes fazer seu café maldito infeliz.
Johann põe seu corpo em movimento, já não é mais o corpo forte de outrora, na sua época jovem, quando se julgava invencível, imortal, insuperável tudo mudou e ele sente mais uma vez que foi mais uma mudança que passou oculta como o sol ao ascender se eleva e espera, apenas espera um dia se passar para novamente se esconder, sua vida parece ter vindo a ele e só esperou para agora se esconder dele, as mudanças todos notavam e ele não, não conseguia ler na natureza a leveza e sutileza que liam os sábios e pensar durante toda sua vida foi uma das coisas que mais pintava, assim era o pobre pintor, não velho como agora, não sem esperança como agora, não fraco como agora, não tão medíocre como agora, assim o era, assim não é mais, esqueceu onde foi que se perdeu seu plano antes tantos, quase nenhum pode realizar, trabalhava, trabalhava e o dinheiro sempre guardava de tantos prazeres se privou, pois via no futuro algo a zelar, sua família talvez? Não Johann sempre foi egoísta demais pra isso, deu o melhor dos estudos, roupas e o próprio lazer para seus filhos, só ainda não pode ver retribuição nenhuma, sabe horrores de seus filhos que os levariam a cadeira elétrica em dias, e tem a ousadia de pensar onde pode ter errado em tal educação, enquanto anda e sente seus já fracos pulmões aspirando o ar como a um trago de cigarro, entra pela cozinha vazia, sua mulher parece não ter acordado ainda, olha no relógio e se irrita:
- Preguiçosa, como pode isso, já são 11 horas, que ela deve estar pensando???
Nada. Ninguém nunca pensa ao dormir. Alguns Nunca pensam nem mesmo acordados.
Nunca diria isso, algo tão machista nem durante o namoro, nem no noivado, mas ao casar isso se tornou rotina, permanente constante em quase todos os momentos de sua vida. Abre o armário, são muitas panelas a maioria sem nunca ter sido usada ele mexe em algumas delas, o barulho de ferro em atrito pára quando encontra um pequeno pote marrom, sua tampa meio solta já lhe leva a pensar que deve ser trocado, mas já não é assim que agimos com tudo e todos, a partir do momento que se torna velho é substituído e jogado fora, entregue aos porcos, ao lixo, para apodrecer junto dos abutres e rasgados pelos cachorros e seus vermes, por que agir diferente com objetos, ele o abre e dele sai um odor de café tão conhecido pela manhã ele o coloca sobre uma pequena mesa adornada de flores, algumas já um tanto a murchar, pois ninguém se entrega ao trabalho de cuidá-las. A louça está encharcada de óleo e a vasilha vazia caída no chão, Johann não entende muito bem, mas da forma que anda seu relacionamento com os filhos bem pode ter sido um deles somente para afrontar o pai, tão comum.

Pega uma das buchas, limpa uma jarra e a enche de água. Procura o fósforo e o vê em cima da geladeira o pega risca dois ou três até que consiga acender o fogo, sobre ele põe a jarra e espera ora olha para a água dando indícios que ira começar a ferver olha também para a janela como se procurasse algo que ainda não sabe bem o que é. Na terceira ou quarta olhada sente um calafrio, seus pelos das costas se eriçam e suas pernas tremem, tremem como nunca tremeram tanto na sua juventude, como agora na velhice, nunca antes tremeu nem mesmo quando ameaçado por cinco garotos na porta da escola, quando quase foi atropelado por um ônibus na saída do curso de arte, ao fundo via o de sempre a vista para as pistas de Brasília ao lado de fora do prédio nada havia, não havia parapeito no nadar da cozinha, cabelos brancos ao bater do vento em ritmo uníssono, mas não os dele, era uma criança, uma criança que passava do lado de fora da janela, como se andasse calmamente sobre uma calçada num dia de Domingo. Sua aparência inspirava medo e sabedoria, seu rosto era branco como leite seus olhos fundos e negros como se já tivesse visto em sua pouca vida, mas do que o pintor veria, ele se sentiu medo, no mais puro sentido da palavra, tremeu como criança diante da criança e só conseguia pensar - mais que diabos é isso, terá agora meus olhos me enganado, como se já não bastasse todo o resto não funcionar com perfeição - sente uma falta de ar olha para o chão com uma ânsia de vômito quase insuportável levanta os olhos para a janela e vê o menino com um sorriso gentil, sombrio, porém gentil, Johann se sente completamente ébrio sua cabeça roda mais rápido do que podia suportar, solta tudo que seu estômago continha no chão da cozinha ao lado do pote de óleo derramado e logo em seguida desmaia, desmaia e dorme como uma pedra num dia de temperatura normal de ambiente no deserto ao não ser incomodada nem por viajantes nem por animais.
Afinal ninguém parece se importar mais com ele desperta e ninguém veio vê-lo, ninguém, se sente péssimo, mas mesmo assim levanta olha no seu relógio ele marca 12:54, hora de procurar pelos outros moradores de sua casa, precisa da companhia de mais alguém ou sente que pode enlouquecer depois da cena vista, nunca antes tinha visto assombração nem nada parecido com aquilo, sua mente parece brincar sobre o fio que separa sua sanidade do absurdo, levanta rapidamente ainda sentindo um pouco de tontura e se dirige novamente à sala. Está vazia. Olha para a escada e a vê uma tanto distorcida decide parar para respirar um pouco, olha para a porta do quarto de sua filha que se situa na parte inferior do prédio vê o adorno dado por ele há algum tempo “aqui dorme uma princesa” uma das poucas verdades em presentes e mensagens que mandou a todos seus filhos e lembra-se da ultima carta mandada à Mathias: Ela iniciava com: Gentil filho... Ao lê-la apenas esse inicio o filho a rasgou e jogou sobre seu rosto: hipócrita!!! Não finja que não tem conhecimento sobre meus atos!!!!!!!Homem idiota!!!!Que coisa mais estúpida a se dizer!!!!!!!!E não se atreva a chorar na minha frente!!!!!... Não era hora nem lugar de ter lembranças tão tristes, subia correndo a escada, muito ofegante parou na porta do quarto da esposa depois de passar por um tapete com desenhos persas dos quais ela tanto gostava, andou mais lentamente até a porta já quase sem fôlego e ainda confuso e com medo, com cuidado para que sua mulher não visse a lágrima que acabava de cair no canto de seus olhos, lágrimas nos olhos, era tudo que ele não queria que a mulher que o desprezava visse agora, mas ele precisava dela, sabia que lá não ficaria, não, nunca ficaria, mais precisava falar-lhe, dirigiu sua mão ainda trêmula até a maçaneta da porta, brilhante como nunca antes tocada por mãos humanas, tentou rodá-la por uma ou duas vezes:- mas que diabos!!!!-pensou


-Ela nunca tranca a porta, por que justo hoje, por que justo agora, oh meu Deus eu preciso dela, preciso dela agora, você não pode ver, já é tempo de vê-la, nada seria melhor nessa hora - ao finalizar seu pensamento o destino decide o que significa mais importante para ele, a porta se abre, talvez não estivesse conseguido abrir a porta pela fraqueza sentida nas mãos, a porta se abre...
Seu Deus já era modo de expressão, uma mera e simples figura de linguagem e isso era bem óbvio em sua mente.
Nada era óbvio pensando bem.
O garoto era tudo que conseguia ver de forma nítida.

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